Foram décadas de luta de incontáveis mulheres – atletas, treinadoras, mães, dirigentes, apoiadoras – até que as mulheres brasileiras chegassem aos feitos alcançados nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. O esporte feminino do País fez história na França e contou para isso com investimento em projetos específicos do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e das confederações.
Em uma delegação composta por uma maioria de mulheres, a maior parte das medalhas foi conquistada por elas, que tiveram protagonismo absoluto e incontestável.
Afinal, todas as medalhas de ouro do Brasil em Paris tiveram o suor, o trabalho e a gana da mulher brasileira. E a atleta mais vitoriosa (do País, nesta edição e da nossa história) agora também é uma mulher.
Rebeca Andrade foi o grande nome da delegação brasileira na Olimpíada de Paris-2024, com quatro medalhas, resultados que, somado às duas conquistas em Tóquio, a transformam na maior medalhista brasileira de todos os tempos.
Na França, a campanha começou com um resultado inédito e incrível por equipes. Pela primeira vez o Brasil subiu ao pódio em uma prova coletiva na ginástica, masculina ou feminina. O bronze premiou um time inesquecível, que segue na ponta da língua da torcida brasileira: Rebeca, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira e Julia Soares.
Mas a competição estava apenas começando e Rebeca ganharia outras três medalhas, em quatro disputas diretas contra Simone Biles, grande estrela dos Jogos. Ganhou prata no individual geral, ameaçando como nunca a hegemonia da norte-americana, repetiu o resultado no salto e viveu um dos momentos mais mágicos da história do esporte ao ganhar, enfim, o ouro no solo.
Não só por vencer Biles, mas por fazê-lo de tal forma que motivou a norte-americana e sua compatriota Jordan Chiles a prestarem reverência a Rebeca em pleno pódio olímpico, em um momento inesquecível dos Jogos.
Assim como foram outros muitos momentos femininos em Paris. Como esquecer a emoção de Beatriz Souza ao falar com a família, pelo celular, depois do título olímpico na categoria pesado do boxe? Foi a terceira medalha dourada do judô feminino do Brasil na história, agora mais laureado que o masculino, promovido muito antes.
Já o vôlei de praia chegou ao seu segundo título feminino, com Duda e Ana Patrícia, campeãs desde os Jogos Olímpicos da Juventude, e que precisaram se reencontrar para fazer a dupla perfeita e chegar ao tão sonhado ouro em Paris.
Mas essa não é somente uma história de ouros, não é nem uma história apenas de medalhas. Ainda que elas tenham vindo em grande número.
Só no futebol foram 22 atletas e uma medalha tão bonita, que poderiam contar assim também no quadro de medalhas, tão grande foi a campanha da nossa seleção feminina. Desacreditada, passou da primeira fase com duas vitórias, identificou onde poderia melhorar, e eliminou as gigantes França, dona da casa, e Espanha, atual campeã mundial, para chegar à final contra os Estados Unidos.
O vôlei feminino ficou com o bronze e com um pedaço do coração de cada brasileiro. Não foi a campanha que elas queriam, mas mais do que suficiente para encher de orgulho o torcedor, cada vez mais apaixonado por Gabi e companhia.
Do outro lado do planeta, Tatiana Weston-Webb parou o Brasil para a primeira final feminina do surfe com a presença de uma brasileira. Após campanha histórica, Tati ficou com a prata no Taiti.
O País também parou para torcer por Rayssa Leal em uma final de altíssimo nível no skate. Aos 16 anos, a maranhense alcançou mais um feito histórico: sua segunda medalha olímpica, algo que nenhuma outra brasileira (homem ou mulher) teve com essa idade.
Larissa Pimenta, aos 25 anos, e Bia Ferreira, aos 31, também têm duas medalhas cada uma agora. Bia, pelo bronze no que ela diz ter sido sua despedida olímpica no boxe. Larissa, pelos dois bronzes conquistados em Paris, primeiro individualmente, na categoria até 52kg, depois por equipes mistas, disputa em que Ketleyn Quadros, Rafaela Silva e Bia Souza também acrescentaram, individualmente, a segunda medalha às suas coleções.
Além das medalhas, o Brasil teve outros resultados históricos com mulheres. Ana Luiza Caetano, por exemplo, chegou até as oitavas de final do tiro com arco, melhor campanha da história de uma mulher brasileira nesta modalidade.
Valdileia Martins bateu o recorde nacional no salto em altura nas eliminatórias e se classificou a uma final inédita. Uma lesão no pé, porém, a impediu de competir por uma medalha.
Já Ana Sátila competiu até demais. Em três participações, a canoísta conseguiu terminar sempre entre as oito primeiras. O quarto lugar no K1 e o quinto no C1 foram, sem dúvida, dolorosos, mas ajudaram a mostrar que ela está entre as grandes atletas brasileiras da atualidade.
*Com Comitê Olímpico do Brasil