A conquista do heptacampeonato e o retorno de Marc Márquez ao topo da MotoGP renderam elogios de seu compatriota Fernando Alonso, bicampeão mundial de Fórmula 1. As declarações aparecem na série documental Volver, da plataforma DAZN, que acompanha a volta do espanhol à principal categoria do motociclismo.
“Uma coisa excepcional, porque além do talento natural que você pode ter como piloto, é preciso ter uma força mental e uma disciplina fora do comum. Não existe uma pessoa ‘normal’, por isso digo que é excepcional, que pode passar cinco anos sem ganhar um título e não perder um pingo de garra, espírito competitivo e, é claro, talento”, comentou o piloto da Aston Martin.
“E de sempre querer melhorar. Melhorar a versão de um campeão mundial é muito difícil. Colocar isso na cabeça e ter a disciplina de se aprimorar todos os dias para melhorar essa versão, acho que poucas pessoas conseguem fazer isso. É por isso que acho que o que Marc fez este ano está ao alcance de poucos”, continuou.
O piloto da Aston Martin também fez uma pausa em sua longa e vitoriosa carreira de 25 anos no automobilismo, embora não tenha sido por lesões, como a de Marc — principalmente a grave fratura no braço direito em 2020, que exigiu várias cirurgias e o deixou fora por quase toda a temporada de 2020 e parte de 2021, com uma recuperação que se estendeu por mais de um ano.
Em 2018, Alonso anunciou sua aposentadoria da F1 e decidiu se aventurar em outras categorias como a Indy, Dakar e nas 24 Horas de Le Mans. Entretanto, o espanhol voltou a correr na elite do automobilismo três temporadas depois, em 2021.
“Às vezes, nós, pilotos, nos entendemos, porque quando você faz uma pausa, seja no meu período sabático de dois anos ou em uma lesão grave como a que ele teve, acho que no automobilismo profissional ou nas principais categorias, como MotoGP ou F1, não é apenas o talento ou a sensibilidade que você tem quando se trata de pilotar, seja uma moto ou um carro, ou a sensibilidade que você tem com os pneus quando eles estão no limite de sua aderência”, disse o piloto de 44 anos. “A velocidade com que as coisas acontecem a 350 km/h é muito diferente da vida real. Não há nada com que você possa treinar ou simular isso”.
Psicologia para o esporte
Para Alonso, o fortalecimento psicológico precisa estar alinhado com o dia a dia, para não chegar “ao fundo do poço” e continuar dando o melhor dentro do esporte, buscando sempre resultados para o piloto e a equipe.
“Quando você não vence há algum tempo ou não tem o equipamento certo, seja a moto ou, nestes meus anos, não tenho o carro para estar no topo, você precisa ter conversas consigo mesmo, muitas vezes, em casa, você tem de se levantar todos os dias, ir para a academia, tem de pegar a moto, treinar… são muitas horas sozinho”, desabafou o bicampeão de F1.
“Você pega a bicicleta, vai por três horas e fica falando sozinho por muitas horas. Você tem que tomar um banho, olhar para as cicatrizes no caso dele, no meu caso as contusões, você tem que assistir a vídeos do passado e muitas coisas e conversar consigo mesmo para se lembrar de que você ainda é aquele cara, não o cara atual que não consegue obter o resultado agora.”
O piloto da Aston Martin também comparou a conquista de seu compatriota com sua temporada de 2023 e comentou sobre o sentimento do sucesso após períodos desafiadores.
“Quando você passa por um período difícil e depois volta a vencer, percebe que precisa se acostumar com isso”, continuou. “E vimos isso com Marc em 2024, ou comigo em 2023, quando conquistei oito pódios com a Aston Martin. Foram apenas oito pódios, não ganhei nenhuma corrida, mas aqueles pódios foram uma explosão de alegria.”
O último pódio de Fernando Alonso na F1 foi no GP de São Paulo, em 2023, quando ficou em terceiro lugar e marcou a 106ª vez dele nas três melhores posições da corrida. Por fim, ele relembrou como se sentiu em estar novamente erguendo um troféu após uma prova.
“Olho para as fotos daqueles pódios, com talvez Verstappen em primeiro e Checo em segundo, [eles] meio contentes, e eu em terceiro estou extasiado. E em 2024 foi a mesma coisa, Jorge [Martín, campeão da MotoGP em 2024] e Pecco [Bagnaia, bicampeão da MotoGP em 2022 e 2023] com a pressão de lutar pelo campeonato mundial, e Marc em terceiro ou segundo e, sem ganhar a corrida, ele estava dançando no pódio, acho que você vive isso de uma maneira diferente e tem que aproveitar”, concluiu.






