Papo com Tironi

Documentário sobre tragédia no Ninho mostra o futebol que pouca gente conhece

Produção traz entrevistas com sobreviventes, pais das vítimas, jornalistas e autoridades

Modelo

Eduardo Tironi

20/03/2024 10:06

Ninho do Urubu

Dez jogadores da base do Flamengo morreram no incêndio do Ninho do Urubu, em fevereiro de 2019


Reprodução/Netflix

Está disponível na Netflix o documentário O Ninho: futebol e tragédia sobre o incêndio que matou dez jovens da base do Flamengo em 8 de fevereiro de 2019.


A produção, de Pedro Asbeg, Renato Fagundes e UOL, é caprichada e jornalisticamente muito bem feita. São entrevistados sobreviventes, pais das vítimas, jornalistas e autoridades.


Além de revisitar as histórias chocantes, tristes e assustadoras, o documentário é um retrato cruel, mas muito preciso da estrutura do futebol brasileiro.


Estamos falando do clube mais poderoso do País, que ano a ano comemora recordes de arrecadação a ponto de chegar à casa do bilhão anual. Era ali, escondidos nesta fonte de dinheiro, que jovens moravam em containers e que morreram queimados numa mistura de negligência, irresponsabilidade e desprezo.


Entre outras coisas, a obra mostra que, ao lado dos fornos que mataram os meninos estava a estrutura do futebol profissional, com alojamento de nível de um hotel seis estrelas.


Como se fossem dois universos incomunicáveis: de um lado o futebol profissional que traz dinheiro, fama, títulos e do outro meninos que precisam atravessar ondas gigantes para, quem sabe, ter a chance de visitar o lado bonito desta vida. De um lado a loja e suas vitrines lindas. Do outro, a massa de manobra para esta estrutura funcionar.


O futebol da Copa do Mundo, da Liga dos Campeões, dos astros trilhardários colecionadores de carros, aviões, dos gramados impecáveis… este é o lado visível e lindo do futebol. A realidade triste está do outro lado, das famílias que perderam seus filhos e a esperança de mudar suas histórias. O documentário é muito preciso

neste olhar.


Para finalizar: indenizações foram pagas, mas até hoje NENHUM culpado foi apontado.





*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Bandsports.


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