Está disponível na Netflix o documentário O Ninho: futebol e tragédia sobre o incêndio que matou dez jovens da base do Flamengo em 8 de fevereiro de 2019.
A produção, de Pedro Asbeg, Renato Fagundes e UOL, é caprichada e jornalisticamente muito bem feita. São entrevistados sobreviventes, pais das vítimas, jornalistas e autoridades.
Além de revisitar as histórias chocantes, tristes e assustadoras, o documentário é um retrato cruel, mas muito preciso da estrutura do futebol brasileiro.
Estamos falando do clube mais poderoso do País, que ano a ano comemora recordes de arrecadação a ponto de chegar à casa do bilhão anual. Era ali, escondidos nesta fonte de dinheiro, que jovens moravam em containers e que morreram queimados numa mistura de negligência, irresponsabilidade e desprezo.
Entre outras coisas, a obra mostra que, ao lado dos fornos que mataram os meninos estava a estrutura do futebol profissional, com alojamento de nível de um hotel seis estrelas.
Como se fossem dois universos incomunicáveis: de um lado o futebol profissional que traz dinheiro, fama, títulos e do outro meninos que precisam atravessar ondas gigantes para, quem sabe, ter a chance de visitar o lado bonito desta vida. De um lado a loja e suas vitrines lindas. Do outro, a massa de manobra para esta estrutura funcionar.
O futebol da Copa do Mundo, da Liga dos Campeões, dos astros trilhardários colecionadores de carros, aviões, dos gramados impecáveis… este é o lado visível e lindo do futebol. A realidade triste está do outro lado, das famílias que perderam seus filhos e a esperança de mudar suas histórias. O documentário é muito preciso
neste olhar.
Para finalizar: indenizações foram pagas, mas até hoje NENHUM culpado foi apontado.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Bandsports.