Historicamente, o cargo de chefe de delegação de Seleção Brasileira sempre foi um toma lá dá cá político, um sinal de aproximação e alinhamento da tal figura junto ao comando do futebol brasileiro ou, em outras palavras, da CBF.
A chefe de delegação da seleção nos amistosos que o time fará na Europa contra Inglaterra e Espanha é Leila Pereira, presidente do Palmeiras. A primeira mulher a ocupar tal posto, o que já não é pouca coisa.
Quem esperava que sua presença lá seria parecida com a de todos os homens que ocuparam a função ao longo da história se enganou. Normalmente um cartola homem está lá para fazer seus contatos, passear e posar ao lado do poder. Não muito mais do que isso.
Leila Pereira fugiu do script. Falou sobre um tema que parece proibido dentro dos limites da CBF: os casos de Daniel Alves e Robinho, condenados por estupro na Espanha e Itália, respectivamente. Ao ser perguntada se este tema era assunto na seleção, Leila respondeu em alto e bom som.
“Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação, tenho que me posicionar sobre os casos do Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós, mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte.”
Não poderia ser mais clara a presidente do Palmeiras. Enquanto todos os homens que vivem do futebol têm enorme dificuldade em ser claros sobre o assunto, Leila falou o que precisava ser dito.
Outro dia, Tite chegou ao cúmulo de dizer que não sabia detalhes do caso Daniel Alves. Pegou tão mal que ele precisou retomar o tema em outro dia para pedir desculpas.
E assim é o mundo do futebol: por medo ou corporativismo, na melhor das hipóteses, ou por não ver gravidade nos casos, na pior, todos se calam.
Foi necessária a presença de uma mulher corajosa para colocar as coisas como elas são. Já ganhou o título de melhor chefe de delegação de seleção em muito tempo.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Bandsports.