A Red Bull jamais será a mesma, independentemente do que acontecer daqui para frente. Pode Christian Horner ficar no emprego, pode Helmut Marko continuar como consultor ou até mesmo renovarem o contrato de Max Verstappen até 2087. Até a parte austríaca da gestão se entender com os tailandeses, as relações internas mudarão para sempre.
Ok, empresas, famílias, amigos, todos nós temos a capacidade de reestabelecer os nossos relacionamentos. Em um mundo em que o dinheiro tem cada vez mais importância e o tal do profissionalismo está em vigência, os milhões de dólares que permeiam a Fórmula 1 ajudarão a Red Bull a continuar em pé, mas eu posso afirmar que ela nunca mais será a mesma.
Em 19 anos na Fórmula 1, a equipe já mudou bastante. Principalmente após o seu primeiro título, com Sebastian Vettel, em 2010. O triunvirato Horner, Marko e Adrian Newey sempre quis resultado acima de qualquer coisa, mas o time surgiu com aquela pegada alternativa, uma equipe underground, que distribuía no paddock o Red Bulletin, com diversas ironias e sátiras — inclusive deles próprios.
Os novos fãs da Fórmula 1 até se chocam quando esse tipo de história é contada sobre a Red Bull. Um time que era queridinho por todos e que, primeiro, mudou a categoria pelo comportamento, muito mais próximo do jovem, sendo descolada, moderna e até transgressora em muitas coisas. Hoje o lema por lá é vencer, vencer e vencer.
Bem, com a falta de transparência da Red Bull no Caso Horner, seria leviano afirmar qualquer coisa, mas tenho a tendência, pelo o que se ouve no paddock, que o fato da equipe vencer, vencer e vencer, nada se altera por ora — assim, seria, a visão da parte tailandesa da gestão, sócia-majoritária da Red Bull. É quem banca Horner por enquanto. E digo por enquanto porque, se a venda das latinhas de energético diminuir e o resultado for por boicote à situação, o britânico vai ser demovido do cargo.
O lado austríaco e tailandês vai se entender. Uma hora, eles falarão a mesma língua novamente, como era enquanto Dietrich Mateschitz era vivo. Estamos falando de um grupo global de bilhões. Vão se entender.
Horner, Marko, Verstappen – seja o pai ou o filho –, Newey ou quem quer que seja que esteja envolvido nesse episódio — ou até outros, pois, vamos lembrar, desde a morte de Mateschitz, há uma briga pelo poder — não terão mais a mesma relação.
Por mais que estes não fossem amigos a ponto de um chamar o outro para jantar em casa, digo que alguém ultrapassou uma barreira muito séria, não vista antes nessa briga pelo poder: expor a imagem pessoal de alguém. Não estou defendendo passar pano para alguém, ainda mais se esse tem uma conduta de importunação sexual, o que estou falando é que não foi um vazamento falando de aspectos profissionais, mas uma conduta pessoal.
Logo, quebrou-se a confiança. Logo, alguém traiu alguém nisso. Nem Marko, nem Max e nem ninguém mencionou alguma coisa que pudesse gerar o benefício da dúvida para Horner. Jos, o pai, ainda falou que a Red Bull vai explodir se Horner ficar.
Ela pode até não explodir. Eles podem ficar, ganhar o Mundial de Construtores com muitas etapas de antecedência, Verstappen pode ser tetra, mas tudo vai mudar. Por mais que o episódio possa fortalecer Marko ou o clã Verstappen, alguém vai conseguir confiar em alguém? Quem me garante que o ‘vazador’ não fará o mesmo no futuro pensando em interesses próprios? Quem na Red Bull, hoje, não tem tentado informações comprometedoras de outros para ter um “Super Trunfo” no futuro?
A Red Bull jamais será a mesma. Seja com os membros atuais ficando, a estrutura não vai funcionar como era antes. Se todos saírem, sinal de que a equipe mudará de vez.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Bandsports.