Demitido da Alpine em julho do ano passado, Otmar Szafnauer deu detalhes sobre o período em que comandou a equipe na Fórmula 1 e disparou críticas à direção da Renault, dona da escuderia.
O romeno assumiu o cargo de chefe de equipe no início de 2022 com a promessa de que receberia controle total sobre os departamentos da F1. Na prática, no entanto, o trabalho não foi bem assim, segundo ele.
“Algumas coisas deram errado na Alpine. Uma delas foi que eu não tinha controle sobre toda a equipe: o RH não se reportava a mim, ele se reportava por meio da França”, comentou Szafnauer.
“O escritório financeiro não se reportava a mim. O departamento de comunicações não se reportava a mim e o grupo de marketing e comercial não se reportavam a mim. E isso por si só, eu sabia que seria problemático. Antes de eu aceitar o emprego, foi [dito] que todos se reportariam a mim. Cheguei lá e não era o caso. Pensei que conseguiria, mas logo soube que era problemático.”
Na visão de Szafnauer, os diretores da Renault não estavam interessados nos resultados nas pistas e se preocupavam apenas com as próprias carreiras.
“Eles não estavam trabalhando comigo. E quando você não se importa com o desempenho do time, o que você se importa é com sua base de poder mais do que com o desempenho do time, é quando você faz esse tipo de coisa”, comentou.
“Na Ford, e espero que não seja mais assim, mas costumávamos ter um ditado que dizia que ‘a Ford Motor Company não fazia carros. Ela fazia carreiras’, o que significa que você se importa mais com sua carreira. E esse não é o caso na Fórmula 1, mas pode ser o caso se você tiver um grupo de pessoas, digamos, do Grupo Renault, agora encarregadas de uma equipe de Fórmula 1. Você não se importa com o desempenho na pista, você se importa com sua carreira. E se esse for o caso, você toma esse tipo de decisão”, explicou.
Um das situações mais polêmicas durante o comando de Szafnauer foi o imbróglio envolvendo Oscar Piastri, que era piloto reserva da Apine e surpreendeu a equipe francesa ao assinar contrato com a McLaren. Szafnauer, que estava há poucos meses trabalhando no time, disse que ele foi escolhido para ser o bode expiatório pela perda da promessa australiana.
“O contrato nunca foi assinado. Comecei em março. Eu não tinha ideia. Eles não enviaram os documentos do Conselho de Reconhecimento de Contratos (CRB, na sigla em inglês) corretamente e nunca assinaram um contrato”, explicou.
“Nós publicamos um press release, e ele tem minha imagem. E não teve nada a ver comigo, eu nem estava lá! O departamento de comunicações que não se reportava a mim achou que seria uma boa ideia desviar a incompetência daqueles que estavam ajudando na época colocando minha foto no comunicado. Mas isso só mostrou na época que havia algumas pessoas dentro da organização Alpine que não eram confiáveis e queriam me pegar”, desabafou Szafnauer.