O diagnóstico de um aneurisma da aorta ascendente em um check-up realizado em novembro do ano passado colocou o futuro de Heikki Kovalainen no esporte em dúvida. O problema cardíaco que podia até causar hemorragia interna não podia ser ignorado pelo ex-piloto da Fórmula 1, que interrompeu as atividades no rali para passar por uma cirurgia no coração aos 42 anos de idade.
O procedimento realizado há pouco mais de três meses foi um sucesso, e o finlandês já está de volta às competições no Japão. O retorno ao mundo do automobilismo estava longe de ser a prioridade, mas paixão pela velocidade foi determinante na rápida recuperação.
“Este é o maior desafio da minha vida e, para ser honesto, é um dos maiores eventos da minha vida”, disse Kovalainen em entrevista ao site Motorsport.com. “A primeira motivação era apenas poder retornar a um estilo de vida normal. Mas tenho que admitir que poder retornar ao rali ou mesmo a um carro de corrida um dia também estava lá no fundo da cabeça. Teria sido uma decisão muito grande não poder mais correr ou pilotar ralis. Ainda sinto que tenho a paixão e a motivação, especialmente para o rali agora. Tenho a paixão de continuar, talvez não no Mundial de Rali ou no topo do nível mundial, mas ainda assim, você quer continuar pilotando. Essas foram as forças motrizes.”
O vencedor do GP da Hungria de 2008 revelou ainda que teve “sorte” ao descobrir o problema cardíaco e explicou que optou pela cirurgia poucos meses após receber o diagnóstico justamente para poder manter o estilo ativo de vida.
“Foi uma pura coincidência que decidimos então verificar o coração, então, de certa forma, tive sorte de conseguir fazer o exame”, diz Kovalainen. “Eu poderia ter continuado sem uma operação, mas com restrições muito pesadas, e isso não me atraiu muito. Meu estilo de vida é muito ativo, mesmo se você tirar o rali, eu gosto de praticar esportes e ciclismo e mountain bike e, em geral, minha vida é bem ativa”.
“Considerei as opções que me foram dadas com bastante cuidado e, embora exista a possibilidade de que algo desse errado durante a operação ou que possa haver alguns efeitos depois, eu estava disposto a correr esse risco. Achei que as probabilidades estavam do meu lado. Ainda sou relativamente jovem, em forma e bem, e se você atrasar essa operação, as chances podem ser piores no futuro. Outra consideração foi que, pela taxa de dilatação da aorta, havia uma chance de eu ter que fazer essa operação nos próximos cinco a 10 anos”.
Kovalainen passou nove dias no hospital antes de continuar a recuperação em casa. As primeiras semanas foram difíceis devido a uma inflamação na garganta causada por um tubo utilizado durante a cirurgia. No entanto, o desejo de voltar a um cockpit já começou a ser a possibilidade mais realista.
“Era difícil falar com as pessoas – toda vez que eu falava com alguém, eu começava a tossir e, quando você acorda de manhã, você simplesmente não se sente normal com essa dor de cabeça como uma gripe e a sensação de peso”, explicou. “Mas então, depois de cinco semanas, as coisas começaram a mudar e, rapidamente, nas próximas três a quatro semanas, comecei a me sentir muito melhor, e eu era capaz de me movimentar um pouco mais. Depois de oito semanas, eu fiz um check-up com o médico, e me permitiram retomar um pouco de treinamento com um pouco de corrida e ciclismo, também ir à academia e fazer algum treinamento de força, mas sem pesos pesados”.
“Eu me senti muito bem e, depois de 12 semanas, fizemos um check-up muito completo. Tiramos imagens do coração e verificamos a funcionalidade, exames de sangue, verificamos o osso do peito com os raios X e estava tudo curado tão bem quanto eles poderiam esperar. Eles me disseram que você pode fazer o que quiser e sem restrições, e então, obviamente, a ideia de eu retornar ao rali imediatamente veio à minha mente”, disse o ex-piloto da McLaren.
O retorno às pistas do Campeonato Japonês de rali no início de julho foi emocionante. Kovalainen tinha muitos questionamentos sobre suas reais condições físicas para pilotar o carro, mas as dúvidas rapidamente acabaram quando ele acelerou.
“Foi um momento de alegria [estar de volta ao carro]. Havia alguns pontos de interrogação, então foi bem emocionante, mas, imediatamente quando pulei no carro e coloquei os cintos no primeiro dia de teste, não senti dores em lugar nenhum depois da minha primeira corrida”, comemorou.
“A preocupação para mim era que, no rali, você tem que mudar de direção com o volante bem rápido e as mãos e braços têm que trabalhar bastante e como esse tipo de movimento de torção seria sentido no meu peito, porque obviamente eles [os médicos] abriram o peito [na operação]. Depois da minha primeira corrida, percebi que não havia problemas. Foi um grande alívio, na verdade, e minha visão e meus outros sentidos pareciam totalmente normais”, finalizou.