Quanto a torcida ficou silenciosa, incrédula pelo 6/0 contra no placar, Ana Patrícia ergueu os braços e gritou por apoio. Sabia que a dupla brasileira tinha condições técnicas para virar sobre as adversárias da Letônia, mas entendia que o apoio das arquibancadas também era necessário para incendiar as quartas de final do vôlei de praia feminino. Tímida, normalmente comedida, ela se transforma em quadra e gosta do que externa.
“Eu tento me conter, mas é isso. Eu não fui feita para ficar em um casulo. E nessas horas eu saio dele. Tenho que fazer isso mais vezes, ser meio fora da casinha também”, disse, com a simplicidade que lhe é peculiar.
Campeãs olímpicas da Juventude em 2014, Duda e Ana viram a expectativa de torcedoras e da imprensa se agigantar quando retomaram a parceria no adulto. O projeto para os Jogos Olímpicos de Paris-2024 reuniria duas promessas da base já com experiência olímpica e que, juntas, haviam representado o Brasil num evento multiesportivo com sucesso.
Desde o recomeço da parceria, Duda teve um papel de acolhimento. Premiada como a melhor jogadora do mundo em 2019, convidou Ana para resgatar a parceria e encontrou a parceira magoada após um mar de críticas diante da eliminação nas quartas de final, ao lado de Rebeca, em Tóquio-2020. A sergipana nunca duvidou do potencial da amiga.
“A Paty para mim é uma pessoa maravilhosa, dentro e fora de quadra. Eu nunca gostei desses holofotes. Óbvio que eu agradeço, mas sempre falo para ela: “Se enxerga, você é grandiosa”. Depois de tudo o que ela passou, desde a infância até os Jogos de Tóquio, em que ela saiu muito machucada e conseguiu reverter, não precisa provar nada para ninguém”, disse Duda.
Ana Patrícia se destaca entre as melhores bloqueadoras dos Circuitos Brasileiro e Mundial desde a temporada 2017/2018. Brilhar no fundamento e fechar a passagem para as letãs foi fundamental na vitória por 2 sets a 0 desta quarta-feira, que selou a classificação das brasileiras para as semifinais.
Mas não foi apenas como um paredão junto à rede que Ana se destacou. Foi no seu serviço que a virada começou a ser construída na primeira parcial, se multiplicando também para ajudar nos contra-ataques, ora optando por recuar, ora recolhendo os braços e fazendo a cobertura.
“Ela consegue tirar o máximo de cada situação e é uma jogadora extremamente completa. É uma leoa dentro de quadra, luta por todos os pontos, com muita garra e doação. Ela é incrível. É um privilégio jogar com uma pessoa que é uma das minhas melhoras amigas, que vou levar para o resto da vida”, completou Duda.
Líderes do ranking mundial, Duda e Ana Patricia voltam à Arena Torre Eiffel nesta quinta-feira (8) para a disputa das semifinais do feminino. As adversárias serão as australianas Mariafe Artacho e Taliqua Clancy, vice-campeãs olímpicas em Tóquio 2020 e algozes de Bárbara Seixas e Carol Solberg nas oitavas de final em Paris. Se vencerem, garantem uma medalha, a única que falta na coleção.
*Com Comitê Olímpico do Brasil