Chegou a hora do capítulo derradeiro de uma das parcerias mais bem-sucedidas da história do esporte mundial. No GP de Abu Dhabi deste fim de semana, Lewis Hamilton se despediu da Mercedes depois de 12 temporadas de uma jornada brilhante de muitas vitórias, títulos, recordes e momentos especiais que vão permanecer para sempre na memória do fã da Fórmula 1.
A bordo do cockpit dos Flechas de Prata desde 2013, o britânico se tornou uma lenda do automobilismo e faturou seis de seus sete títulos mundiais, igualando o recorde de Michael Schumacher. Ele foi peça fundamental na era dominante da escuderia alemã na F1, que conquistou oito títulos consecutivos do Mundial de Construtores entre 2014 e 2021.
No embalo dos títulos, o inglês se tornou recordista de vitórias, pole positions e pódios na categoria máxima do automobilismo mundial, e ainda foi além do brilho nas pistas ao se tornar referência na luta pela diversidade e inclusão no esporte, usando seu espaço de destaque para abordar questões sociais como a igualdade racial.
Confira abaixo alguns dos momentos mais marcantes de Hamilton na Mercedes:
Primeira vitória
O marco inicial da vitoriosa parceria entre Hamilton e Mercedes aconteceu em 28 de julho de 2013. Em seu ano de estreia no cockpit da escuderia alemã, o britânico comemorou sua primeira vitória no GP da Hungria, décima etapa do campeonato daquele ano.
Hamilton tinha até então como melhores resultados no ano os terceiros lugares na Malásia, na China e no Canadá. O fim de semana em Hungaroring começou positivo para Lewis com a conquista da pole position. Ele largou bem e controlou a prova sem sustos, perdendo a liderança apenas durante os três pit stops.
A passagem pela linha de chegada com dez segundos de vantagem sobre Kimi Raikkonen representou a primeira e única vitória de Hamilton em 2013. Em uma temporada dominada por Sebastian Vettel, o inglês terminou o Mundial na quarta colocação.
Primeiro título
Se em 2013 Hamilton não passou de coadjuvante, a temporada de 2014 foi completamente diferente. Com 11 vitórias em 19 etapas, o britânico comemorou seu primeiro título pelos Flechas de Prata e o segundo na carreira.
O ano que marcou o início da era híbrida dos motores foi dominado por Hamilton e por seu então companheiro de equipe, Nico Rosberg. Em meio às disputas quentes dentro e fora das pistas, Hamilton chegou à última etapa na liderança e corria o risco de ser ultrapassado por causa da pontuação dobrada na corrida decisiva. No entanto, ele confirmou o favoritismo com a vitória em Abu Dhabi e viu Rosberg terminar apenas em 14º com problemas mecânicos.
Recorde de vitórias na F1
Michael Schumacher se despediu da Fórmula 1 em 2012 ostentando o recorde de 91 vitórias, número que parecia inalcançável para muitos, mas não para Lewis Hamilton. No dia 25 de outubro de 2020, o inglês triunfou no GP de Portugal, chegou a 92 vitórias e se tornou o recordista absoluto na maior categoria do automobilismo mundial.
A prova marcante não começou bem para o então hexacampeão mundial. Hamilton largou da pole, mas teve dificuldade para aquecer os pneus e foi ultrapassado por Valtteri Bottas e Carlos Sainz. Ele só recuperou a liderança na volta 20 e partiu rumo ao recorde. Duas corridas depois, na Turquia, ele garantiu o heptacampeonato e se tornou o maior campeão da F1 ao lado de Schumacher.
Atualmente, Hamilton tem o recorde absoluto de 105 vitórias, sendo 84 delas pela Mercedes.
Vitória épica no Brasil
Hamilton sempre fez questão de exaltar seu carinho pelo Brasil e sua idolatria por Ayrton Senna. E quis o destino que uma das suas maiores atuações na carreira do heptacampeão acontecesse justamente em Interlagos.
Em meio a uma disputa acirradíssima pelo título com Max Verstappen, Hamilton começou o fim de semana do GP de São Paulo de 2021 com uma punição de cinco posições na largada da corrida principal por causa da troca do motor de combustão interna. Ele deu a resposta na pista ao garantir a pole position para a sprit race, mas sofreu um duro golpe logo na sequência. A FIA puniu Hamilton por causa de uma irregularidade na asa móvel e desclassificou o piloto na classificação para a sprint.
Ele partiu então da última posição na prova de sábado e deu um verdadeiro show. Na primeira das 24 voltas, Hamilton já era o 15º colocado. O britânico continuou a escalada com maestria e conseguiu finalizar a corrida em quinto lugar, o que garantiu a ele a décima posição no grid da prova de domingo.
A aula de pilotagem de Hamilton continuou em um domingo que ficará marcado para sempre. Ele ganhou cinco posições logo na primeira volta e aos poucos foi se aproximando do líder Max Verstappen. Na volta 48, Hamilton tentou uma manobra por fora, mas o holandês fechou a porta e jogou ambos para fora da pista. A pressão continuou e finalmente deu resultado na volta 59, quando Hamilton conseguiu a ultrapassagem e abriu caminho para um triunfo épico.
Para coroar o resultado histórico, Hamilton ainda presentou os fãs com uma homenagem inesquecível a seu ídolo Ayrton Senna. A emoção tomou conta do autódromo de Interlagos quando o piloto da Mercedes repetiu o gesto do tricampeão ao desfilar com uma bandeira do Brasil dentro do carro.
Perda do título na última volta
A histórica passagem de Hamilton pela Mercedes não foi feita somente de vitórias, títulos e recordes. Na temporada 2021, o britânico amargou seu pior desfecho de campeonato na categoria ao perder o tão sonhado octacampeonato na última volta do GP de Abu Dhabi.
Protagonistas de uma temporada épica, Hamilton e Verstappen chegaram à etapa decisiva empatados em pontos. O inglês liderava a prova com tranquilidade e estava com o troféu praticamente na mão quando o acidente de Nicholas Latifi provocou a entrada do safety car na volta 53, quando restavam apenas cinco voltas para a bandeira quadriculada.
A Red Bull então chamou Verstappen para colocar os pneus macios. Hamilton perguntou se também pararia, mas recebeu a negativa da Mercedes. Foi então que a maior polêmica dos últimos anos entrou em cena. O diretor de provas Michael Masi determinou que apenas os retardatários que separavam Hamilton e Verstappen poderiam descontar as suas respectivas voltas, contrariando o regulamento e criando um duelo entre os dois candidatos ao título na volta final. Com pneus novos e caminho livre, o holandês superou Hamilton com facilidade e faturou seu primeiro título da carreira.
A Mercedes entrou com recurso contra o resultado da prova, mas não obteve sucesso. Hamilton já disse abertamente que foi roubado na prova e Masi deixou o cargo na temporada seguinte.
Fim do jejum de 945 dias
O peso da derrota marcante em 2021 parece ter acompanhado Hamilton nas temporadas seguintes da Fórmula 1. Se até então o inglês ostentava a marca de pelo menos uma vitória em todas as temporadas na categoria, a partir de 2022 ele amargou um jejum que durou 945 dias.
Depois de vencer o GP da Arábia Saudita na reta final do campeonato de 2021, o inglês passou em branco nas temporadas 2022 e 2023 e só voltou ao lugar mais alto do pódio em 7 de julho de 2024. E o local para colocar um ponto final na longa seca de vitória não poderia ter sido melhor.
Correndo em casa, Lewis fez a festa da torcida inglesa com uma vitória emocionante no GP de Silverstone. Com uma grande pilotagem no seco e no molhado, ele se emocionou ao lado de parentes e amigos e finalmente comemorou seu 104º triunfo na F1.
Essa foi a última vez que Hamilton comemorou uma vitória com a Mercedes dentro da pista. Ele até voltou a triunfar no GP da Bélgica no fim de julho, mas não conseguiu celebrar como de costume porque herdou a primeira posição após o companheiro de equipe, George Russell, ser desclassificado.